terça-feira, 12 de julho de 2011

uma clara e lúcida tristeza

tenho que libertar-me desta obsessão de me ocupar
preenchendo o vazio com ideias desesperadas de equilíbrio
que envenenam mais do que resgatam da solidão em que estou.
procuro um cofre para descartar todas as opiniões
e uma moldura que guarde a tristeza que passa por mim.
ando à mercê de um destino que sirvo com total entrega.
a liberdade é um raio de luz que cega e queima o sono da minha mágoa.
na vaidade de sobreviver vou escondendo as lágrimas que correm para a boca onde o sorriso já nasce triste e doloroso.
despeço-me a cada momento de todos os prazeres
e enquanto corro para o suave abraço e a brisa quente do abismo
vou gritando que quero ser livre.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

fragmentos de uma verdade....

Estou em absoluto acordo com a tua deriva especialmente quando te referes ao "solo imensurável "das palavras e às "grandezas" ou realidades para as quais ainda não foram inventadas palavras. Esta ultima questão acompanha-me há muito, faz parte de mim e é a base dos meus muitos silêncios.

Quanto ao "solo imensurável" é talvez para mim mais recente e tem vindo a assumir uma dimensão quase religiosa na "medida" em que cada palavra contém em si um poder alquímico de manifestar para o "agora" as realidades / sentidos com que se veste...

Estas duas dimensões remetem-me para um extremo cuidado com que me expresso e em especial com o que penso. Por vezes toco nas palavras com a habilidade de "um macaco numa loja de cristais". Outras, amordaço-me com as amarras de um silêncio sufocante que mantém em ebulição um caldo de lava de sentidos em estado de erupção.
 
Tenho um profundo medo de me tornar um criador e simultâneamente um escravo do objecto criado... Enfim, qualquer coisa "mal morta" ou num estado de vida sem legendas.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

objectos pessoais

Passeio pela minha casa como se visitasse um álbum de recordações.
Pela janela do quarto vejo as marcas dos dias vividos desaparecem atrás do nevoeiro e da brisa marítima. Os sonhos não me deixam repousar. Esgotam-me e só depois concedem-me um pouco de esquecimento. Aqui, tudo já é Passado!
Apressadamente saio em busca do que ainda não é uma recordação nem um sonho condenado ao esquecimento.


sábado, 8 de janeiro de 2011

entre a chuva e o mar...

Quando mergulho no outro em busca de mim regresso à minha terra e agradeço o chão que toco com a minha alma. Ando perdido nos lençóis, a chuva conspira mas o Mar quer entrar!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

fragmento único...

o toque é uma espécie de queda, privilégio dos seres que não temem os abismos... e a cegueira a condição de quem quer realmente ver!

com ficções e outras utopias...

Foi por momentos que o seu olhar me confidenciou o que a sua boca teimava em calar. Gritava por silêncio mas mendigava pela alegria dos prazeres subtis que outrora ostentava na grandeza da sua cegueira.... porém vacilou com a coragem de quem sabe melhor as virtudes da queda!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

com ficções...

O tempo parece que não passa ou já terá passado o tempo todo?

Neste silêncio onde me escuto
vejo o tempo que passa e
parte para outro tempo que já não escuto.

O tempo não tem destino
mas ao chegar trás a saudade de mim.
abraça-me em esplendor e desatino
e parte para um lugar de ti.

Talvez a minha alma lamente
o eterno momento do tempo que não chega
do silêncio que não escutei e
o lugar de ti que nunca vivi.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

f r i o

porque hoje sinto frio, vazio e solidão.
vou consolar-me no calor de um café e deixar-me abraçar pelo fim da tarde.
talvez mais um pouco de nada e ouse perder tudo, talvez!
estarei cego pelo abismo que em mim nasce e grita, por mim fala e cala-me?
ainda escuto mas já só sinto... e olhava, olhava, olhava!

vi a vasta paisagem desértica dos sentidos,
o vazio e a vertigem do silêncio que me veste,
e a solidão morna de uma nota muda que me enlaça,

escondi-me entre desconhecidos mas não encontrei nenhum estranho!

porque hoje não vejo continuo a olhar!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

BIO-grafia

a viatura imobilizada ganhou uma velocidade inexplicável.
procuro volante e travões mas deduzo não ser o único condutor desta máquina.
olhei pelos espelhos e dei-me conta que a estrada me consumia.
ignoro os mapas que me trazem até aqui:
estarei talvez perdido rumando a algum destino que desconheço
mas a viatura mantém-se em funcionamento com uma lucidez que eu apenas persigo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Estou vivo.
















O Sol cala-me.
De dia escuto a vida sem pensá-la mas é à noite que ao despir-me da matéria do corpo observo as frases a construírem-se quase perfeitas.
Em mim a escrita é pura energia e movimento mas chega ao papel murcha e reduz-se a um mero desenho de letras.
Para mim escrever é pensar.
Para mim comunicar é estar em silêncio.
Fui acordado pelo amor mas continuo tonto pelo sono da morte.
Quero um sol que faça-me gritar: "Estou vivo!"

O chão profano para os teus passos sagrados.

Fitei o Mar crispado com a ânsia de um demónio quando me recusaste uma imagem do infinito. Dei a mão às sombras do Rio porque o teu abraço tardava e com o brilho da cidade nos meus olhos mergulhei no escuro da noite.
Não te tornes impossivel oferecendo-me meras possibilidades...
Não me convides para um lugar onde não estejas aberto ao meu chegar.
De ti espero mais que um momento de lucidez!
De todos os Homens que fui eu sou o que menos conheci.
Sou o olhar dos outros, o instante perdido no tempo esperando por mim.
Sou o espaço que me habita, o eco de uma nota e a pausa entre as palavras.
Sou o chão profano para os teus passos sagrados.
Hoje não tenho mais medos mas também não tenho a vontade de não os ter...

Trilhos
















Há dias que trilhamos caminhos que não previmos, encontramos pessoas que não conhecemos mas sabíamos que existiam, vemos paisagens que apenas sonhávamos.... há dias em que mergulhamos no outro em busca de nós!

Houve dias que ninguém nos viu ou ouviu o nosso grito, sentiu o sorriso que ofertámos, habitou connosco as casas que não eram de ninguém...houve dias que fugia de mim em busca de ti!

Sonhos














Hoje acordei com o toque suave de uma fresta de luz rompendo vagarosamente as sombras do meu sonho. Abro os olhos e continuo a sonhar até que todos os fantasmas se tornem felizes e a luz habite no infinito em mim.
Boa noite.

Um amor para dois.













 
Troco uma revolução por um poema,
um sorriso por uma lágrima feliz,
uma boca cheia de palavras por um mergulho no teu olhar.
Da eterna paixão quero um amor para dois.












Ainda cheio de ti como um Céu pleno de azul.

Trago em mim uma luz dourada.
























Trago em mim uma luz dourada que brilha como um Sol que não entardece e tem a forma do teu ser.
Porque nenhum lugar é longe demais para estar contigo em eternidade e o Universo inteiro testemunhar a intensidade que nos habita.
Quero conter a ânsia de apagar a distância abraçando-te com palavras. .... já sentes a minha boca?
Então calo-me para nos escutarmos melhor.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Acorda!

Injustos os que têm tudo mas continuam esperando por mais.
Perdidos os que buscam a razão que confundem com emoção.
Desumanos quando destroiem a imagem reflectida no espelho.
Vivemos pelo o que não temos, não somos, não sentimos ou não sabemos.
Ignoramos a superlativa grandeza do que é, sem mais!

Nunca saberás que o pouco que te dou é tudo quanto tenho.
Dá-me o sentido para além das ideias, o silêncio das palavras profundas.

Apaga o ruído que te impede de me escutares.
Acorda e vê-me. Eu não sou um sonho.
Sou apenas tu!"

segunda-feira, 31 de agosto de 2009



Ser feliz é olhar a beleza em cada coisa
Viajar voando cada momento acordado
Um abraço da existência.
Um sopro de ar
Uma lágrima feliz.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Stockholm Central Station











Chego a este lugar incerto do futuro já sem tempo para me perder convenientemente. A temperatura negativa marca o fecho de um ciclo de trabalho árduo que me atirou para outras tantas cidades vagas e igualmente frias.
Misturo-me na multidão jovial e moderna tão segura do seu destino mas tão aparentemente distante da sua origem. Aconchego-me no interior do museu de arquitectura e digiro a arte dos espaços acompanhado por um café que ajuda a calar as minhas inúteis racionalizações.
Pressinto as fábulas da floresta acariciando as fachadas geladas e húmidas das árvores com as suas formas duras vestidas de negro. As nuvens escuras e baixas ocultam a proximidade da aurora e acentuam o prenuncio de uma melancolia profunda e irreversível.
No Café Maran encontrei alguma satisfação quente e acolhedora devolvendo-me um certo ânimo que julgava ter perdido em algum aeroporto ou esquecido numa bagagem transviada.
Encontrei por acaso o fim do mundo a norte da cidade. Sim. Um conjunto de edifícios cobertos de gelo com luzes fracas adoecidas pelo o abandono. Passeei por aquelas ruas com uma curiosidade mórbida pelos sinais milagrosos de vida humana.
Em pontas dos pés, detive-me alguns minutos perante uma janela presenciando uma cena privada e silenciosa de uma octagenária de pele transparente e olhos de cristal e que circulava flutuando num movimento intemporal. Por momentos, quis abrigar-me ali, sem identidade e dia para regressar.
Ali estava tudo, o tempo irremediavelmente suspenso, a esperança guardada numa caixa de jóias, a vasta planície emocional da minha tristeza ganhando terreno á eternidade.
De regresso, aprecio pela primeira vez ,com uma alegria insuspeita, o silêncio e a tranquilidade da neve, o caminhar solitário pelos parques e a expressão curiosa dos estranhos. Concilio-me com o vazio que me invade e inconsciente que jamais me abandonaria.
Aguardo confortavelmente na plataforma da Estação pelo trem que não me devolverá à pessoa que era.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Feliz Aniversário














A mulher completava finalmente 40 anos e sentia-se a meio de tudo o que tinha sonhado e não chegara a viver. Já não vislumbrava nenhum caminho a seguir nem tão pouco as suas realizações a motivavam a voltar a sonhar.
Nestes dias a sua auto culpa, desmedida e quase sem remédio fraqueja-lhe os alicerces da sua esperança. Ignora as linhas de cabelos brancos com a mesma veleidade com que passa o olhar rápido pelas rugas suaves que lhe começam a moldar o rosto.

Enquanto olhava as velas do seu bolo imaginário apenas retia o deslizar triste da cera e dos sulcos profundos que rapidamente desapareciam no interior do chantily. E assim parecia-lhe a sua vida. Engoliu o trave acre de uma lágrima no interior de si e sorrindo disse: "não te direi nada que a vida não te ensine."

Fingiu dormir agarrada ao dorso do seu amante imaginário, herói da sua adiada tragédia e cúmplice de tantos segredos que ele apenas intuía. De manhã, deixando atrás de si o aroma do seu perfume de sempre esgueirou-se porta fora e desapareceu na neblina do novo dia.