quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Stockholm Central Station











Chego a este lugar incerto do futuro já sem tempo para me perder convenientemente. A temperatura negativa marca o fecho de um ciclo de trabalho árduo que me atirou para outras tantas cidades vagas e igualmente frias.
Misturo-me na multidão jovial e moderna tão segura do seu destino mas tão aparentemente distante da sua origem. Aconchego-me no interior do museu de arquitectura e digiro a arte dos espaços acompanhado por um café que ajuda a calar as minhas inúteis racionalizações.
Pressinto as fábulas da floresta acariciando as fachadas geladas e húmidas das árvores com as suas formas duras vestidas de negro. As nuvens escuras e baixas ocultam a proximidade da aurora e acentuam o prenuncio de uma melancolia profunda e irreversível.
No Café Maran encontrei alguma satisfação quente e acolhedora devolvendo-me um certo ânimo que julgava ter perdido em algum aeroporto ou esquecido numa bagagem transviada.
Encontrei por acaso o fim do mundo a norte da cidade. Sim. Um conjunto de edifícios cobertos de gelo com luzes fracas adoecidas pelo o abandono. Passeei por aquelas ruas com uma curiosidade mórbida pelos sinais milagrosos de vida humana.
Em pontas dos pés, detive-me alguns minutos perante uma janela presenciando uma cena privada e silenciosa de uma octagenária de pele transparente e olhos de cristal e que circulava flutuando num movimento intemporal. Por momentos, quis abrigar-me ali, sem identidade e dia para regressar.
Ali estava tudo, o tempo irremediavelmente suspenso, a esperança guardada numa caixa de jóias, a vasta planície emocional da minha tristeza ganhando terreno á eternidade.
De regresso, aprecio pela primeira vez ,com uma alegria insuspeita, o silêncio e a tranquilidade da neve, o caminhar solitário pelos parques e a expressão curiosa dos estranhos. Concilio-me com o vazio que me invade e inconsciente que jamais me abandonaria.
Aguardo confortavelmente na plataforma da Estação pelo trem que não me devolverá à pessoa que era.

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